Na hora das compras, é comum ficar em dúvida: pagar à vista ou parcelar?
Do ponto de vista da educação financeira, é melhor poupar para comprar à vista, afirma Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper. Se você sabe que vai precisar trocar sua geladeira daqui a um ano, é melhor já ir juntando o dinheiro mês a mês para comprar à vista, com objetivo de obter descontos e evitar endividamentos.
Mas há algumas compras imprevistas que são urgentes e, nesse caso, pagar à vista pode ser ruim para o bolso. "Entre apelar para o cheque especial ou parcelar, é melhor parcelar", diz Rocha. "Se seus óculos quebram e você precisa de outro, vai ficar sem enxergar? Para essas compras urgentes, use o bom senso", diz.
Além do professor Rocha, o UOL ouviu os especialistas Alexandre Cabral, professor de Finanças do Instituto de Administração (FIA); Daniela Casabona, planejadora financeira e José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil para ajudar a escolher quando comprar à vista, quando comprar parcelado e quando nunca parcelar:
Quando comprar à vista
A vantagem de ter dinheiro para comprar à vista é que aumenta seu poder de barganha e permite obter um bom desconto, o que fará o pagamento ser mais vantajoso, diz Cabral. Veja neste exemplo:
Se você chegar a uma loja querendo comprar um micro-ondas de R$ 400 que pode ser parcelado em quatro vezes de R$ 100 e perguntar se à vista tem desconto e a resposta for 10% (o equivalente a R$ 40 de desconto, ou R$ 360 à vista), irá descobrir que há uma alta taxa de juros embutida no produto.
Vamos utilizar a calculadora do Banco Central para fazer essa conta (opção "Financiamento com Prestações Fixas"), o resultado é um juro mensal de 4,35% ao mês
Nesse caso, se seu dinheiro estiver parado na conta ou aplicado em um investimento que renda mensalmente um juro menor, vale a pena sacar para pagar à vista. Também vale a pena pagar à vista para evitar o acúmulo de muitas prestações, diz Vignoli.
Quando vale a pena comprar parcelado
Como dito anteriormente, do ponto de vista da educação financeira, é melhor poupar para comprar à vista. Mas, se precisar com urgência do produto e não tiver reservas, então em alguns casos comprar parcelado pode ser melhor para o bolso.
Vamos supor que no caso acima, da compra do micro-ondas, você não tivesse dinheiro para pagar à vista nem dinheiro aplicado e tivesse que entrar no cheque especial para pagar na hora. Nesse caso, com certeza, valeria mais a pena pagar em parcelas, pois o juro do cheque especial está na casa dos 12% ao mês nos grandes bancos, confira:
Banco do Brasil - 12,48% ao mês
Bradesco - 12,25% ao mês
Caixa Econômica Federal - 12,46% ao mês
Itaú - 12,64% ao mês
Santander - 14,76% ao mês
Fonte: Pesquisa de taxa de juros das operações de crédito do Banco Central - entre 11/9/2017 e 15/9/2017, disponível neste link
Outra dica: quando for comprar um produto de valor mais alto (e do qual realmente necessite naquele momento) e o pagamento à vista for deixá-lo sem reservas financeiras, prefira parcelar. "Não vale a pena pagar à vista e ficar sem dinheiro nenhum", diz Rocha.
Também é vantagem parcelar quando o produto não tiver nenhum desconto para o pagamento à vista, diz Cabral. "Financeiramente vale mais a pena, pois a única vantagem de pagar à vista, nesse caso, seria a psicológica, de se livrar da dívida", diz.
Quando o rendimento da aplicação for superior ao juro da parcela, também vale a pena pagar parcelado, diz Casabona.
"O parcelamento faz sentido para valores mais altos, que venham a prejudicar o fluxo normal da vida. O que não pode acontecer é achar que dividindo o pagamento vai resolver todos os problemas. O ideal é parcelar pelo menor tempo que conseguir e não acumular muitas prestações", diz Vignoli.
Quem nunca deve parcelar
Quem não tem nenhum controle financeiro nunca deve fazer parcelamentos, sob o risco de se endividar, afirmam os especialistas.
Também não pode financiar se as parcelas representarem um valor maior do que a pessoa tem para viver. Por exemplo: alguém tem o salário líquido (já descontados todos os impostos e outros abatimentos) de R$ 5.000 e seu custo de vida é de R$ 3.000. Sobram R$ 2.000 para viver, comprar comida, ter algum lazer.
"Aí a pessoa acha que sobram R$ 2.000 e quer assumir uma parcela desse tamanho. O orçamento vai estourar com certeza, pois como ela vai viver?", diz Casabona.
Também não vale parcelar nunca o pagamento da fatura do cartão de crédito, porque as taxas de juros, nesse caso, são muito altas. Se está inadimplente no cartão, tente uma renegociação com o banco ou pegue um crédito mais barato para quitar a fatura e pagar o outro empréstimo, a juros menores.